Um estudo recente publicado na revista Life Sciences sugere que a prática de exercícios físicos combinados, incluindo atividades aeróbicas e de força, pode recuperar funções hepáticas em idosos, pelo menos em modelos animais. A pesquisa demonstrou que, em camundongos idosos, os exercícios físicos restauraram a expressão do gene Bmal1 no fígado. O Bmal1 é uma proteína essencial para o ciclo circadiano, que regula o metabolismo da glicose, colesterol e ácidos graxos, áreas frequentemente prejudicadas pelo envelhecimento.
Detalhes da pesquisa
Conduzido em colaboração entre a USP, Unesp, Unicamp e a Tufts University (EUA), o estudo investigou como a atividade física influencia os genes e proteínas hepáticos envolvidos no ciclo circadiano, que tende a perder eficiência com a idade. Os camundongos idosos, com cerca de 24 meses de idade (equivalente a humanos idosos), foram submetidos a três semanas de exercícios físicos, combinando corrida em esteira e subida em escadas com peso, conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para atividades físicas em idosos.
Ana Paula Pinto, pesquisadora do estudo, explicou que o ciclo circadiano é um “relógio biológico” que responde aos ciclos de luz e escuridão, regulando várias funções corporais, incluindo o metabolismo hepático. Segundo ela, em idosos, a diminuição de eficiência desse sistema pode levar a doenças como hipertensão e diabetes. Os resultados mostraram que o gene Bmal1, que havia diminuído com o envelhecimento, foi restaurado pelo exercício físico, ajudando a regular as funções biológicas do fígado.
Resultados e benefícios observados
Os camundongos idosos sedentários apresentaram menor força, equilíbrio e coordenação, além de níveis reduzidos da proteína Bmal1 e de células hepáticas degeneradas. Em contrapartida, os animais que realizaram o protocolo de treinamento apresentaram melhora na sensibilidade à glicose, aumento de força, e restauração dos níveis de Bmal1 e dos fatores de transcrição mitocondrial, responsáveis pela energia celular. A análise de dados de fígados humanos confirmou uma relação entre as alterações hepáticas observadas nos camundongos e doenças hepáticas, sugerindo que exercícios físicos podem reduzir danos no fígado associados ao envelhecimento.
Além da recuperação de proteínas e células, o estudo também apontou que o exercício combinado pode prevenir doenças hepáticas, como a esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado), ao ajudar no controle glicêmico e reduzir danos celulares.
Relevância para a saúde dos idosos
De acordo com as diretrizes da OMS, idosos devem praticar entre 150 e 300 minutos de atividades aeróbicas moderadas por semana, ou entre 75 e 150 minutos de atividades aeróbicas intensas, junto a exercícios de fortalecimento muscular em dois ou mais dias. Ana Paula destacou que exercícios de resistência são especialmente benéficos para o fortalecimento muscular, reduzindo o risco de quedas e fraturas, além de promoverem maior independência e qualidade de vida.
O estudo foi realizado nos laboratórios da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, sob a coordenação do professor Adelino Sanchez Ramos da Silva. A pesquisa teve a colaboração de Ana Paula Pinto e de Vitor Rosetto Munõz, que estudam as alterações metabólicas no envelhecimento e os impactos do exercício físico. Esses resultados reforçam a importância da prática de atividades físicas regulares para a manutenção da saúde hepática e metabólica, especialmente na terceira idade.
Fonte: Revista da USP