No Brasil, a agricultura familiar representa 77% dos estabelecimentos agrícolas, mas gera apenas 23% da renda total do setor. Dados do Censo Agropecuário 2017, do IBGE, destacam que cerca de 4 milhões de propriedades são classificadas como familiares. Apesar de sua relevância para o campo, os recursos destinados ao segmento são inferiores em comparação à agricultura empresarial, o que dificulta a modernização e o desenvolvimento desses produtores.
Desigualdade nos recursos
Na edição 2024/2025 do Plano Safra, o governo destinou R$ 400,59 bilhões ao agronegócio empresarial, um aumento de 10% em relação ao período anterior. Já para os pequenos produtores, o valor foi de R$ 189 bilhões com taxas controladas. Apenas R$ 14,8 bilhões estão reservados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que atende a grande maioria dos agricultores familiares.
O economista André Chagas, da Universidade de São Paulo (USP), avalia que os recursos para pequenos produtores são insuficientes. “As necessidades sempre superam os recursos disponíveis. O suporte financeiro, embora importante, precisa ser acompanhado de assistência técnica e capacitação, que muitas vezes são mais relevantes para esses agricultores”, ressalta.
Dificuldades de acesso e fuga do campo
Especialistas apontam que a burocracia e a falta de informação dificultam o acesso dos pequenos produtores aos recursos do Plano Safra. Segundo o professor Bruno Pissinato, mestre em Economia Aplicada pela USP, muitos agricultores desconhecem seus direitos ou não têm condições de acessar crédito por falta de escolaridade e assistência técnica. “A política pública precisa ser mais capilarizada, chegando até o agricultor familiar de forma efetiva”, explica.
O envelhecimento da população rural e a migração dos jovens para os centros urbanos também contribuem para a redução da presença da agricultura familiar no País. Entre 2006 e 2017, a área ocupada por esses estabelecimentos caiu de 32% para 23% do total nacional.
Impacto da desigualdade no setor
Apesar de empregarem 70% dos trabalhadores rurais e responderem por 40% da renda em municípios com até 20 mil habitantes, os pequenos produtores enfrentam desafios para competir. A dependência de atravessadores, que compram os produtos a preços baixos e os revendem em grandes centros urbanos, reduz a margem de lucro e dificulta investimentos em tecnologia.
O Atlas Rural Brasileiro revela que apenas 3% das propriedades no Nordeste, onde predominam os pequenos produtores, possuem mecanização. No Centro-Oeste, onde as grandes propriedades são maioria, essa taxa chega a 40%. “Investir em mecanização e fertilizantes para os pequenos produtores pode aumentar a produtividade e diversificar a oferta de alimentos, beneficiando consumidores e agricultores”, afirma Pissinato.
Futuro da agricultura familiar
Para especialistas, políticas públicas mais inclusivas e integradas são essenciais para fortalecer a agricultura familiar. Isso inclui ampliar o acesso ao crédito, oferecer capacitação técnica e reduzir a dependência de intermediários, promovendo maior autonomia para os pequenos produtores. O fortalecimento desse segmento é crucial não apenas para reduzir desigualdades no campo, mas também para garantir segurança alimentar e diversidade na produção agrícola do País.
Fonte: Jornal da USP