A missão oficial do Senado Federal deu início ontem (28) às articulações para tentar impedir a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. A sobretaxa, anunciada pelo ex-presidente Donald Trump, deve entrar em vigor no dia 1º de agosto e pode atingir em cheio setores estratégicos da economia brasileira, como o de carnes, máquinas agrícolas e aviação.
A primeira reunião da comitiva ocorreu na residência oficial da embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, com a presença de representantes do Itamaraty e do ex-diretor da OMC, Roberto Azevêdo. Em seguida, os senadores seguiram para a Câmara Americana de Comércio, onde se encontraram com empresários e membros do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos.
Coordenada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), a missão conta ainda com os senadores Jacques Wagner, Rogério Carvalho, Carlos Viana, Esperidião Amin, Teresa Cristina, Marcos Pontes e Fernando Farias. O grupo manterá reuniões ao longo da semana com parlamentares dos partidos Republicano e Democrata, buscando convencê-los de que a tarifa representa um prejuízo mútuo, inclusive para os próprios estados americanos que recebem insumos do Brasil.
Segundo Trad, a estratégia é pragmática e baseada em perdas concretas que os EUA também terão com a medida. Ele afirmou que o objetivo é “azeitar o diálogo entre os executivos dos dois países” e evitar que o conflito comercial se agrave. Embora reconheça que a solução não virá imediatamente, o senador acredita que o esforço poderá abrir caminho para negociações mais equilibradas.
Disputa interna e pressão política ampliam tensão diplomática
A ofensiva brasileira acontece em meio a uma escalada de tensões políticas. A imposição da tarifa foi formalizada pelo governo Trump após acusações de que o Brasil estaria perseguindo judicialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado por tentativa de golpe de Estado. A carta americana que oficializa o tarifaço menciona diretamente o Supremo Tribunal Federal como razão para a retaliação comercial.
Além disso, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, declarou abertamente que está trabalhando para dificultar a missão do Senado. Em entrevista, afirmou que pretende impedir qualquer avanço nas negociações e que “trabalha para que eles não encontrem diálogo” em Washington. Ele defendeu ainda que a tarifa seja mantida como instrumento de pressão para forçar o Brasil a conceder anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
A embaixadora Maria Luiza Viotti, no entanto, reforçou que o diálogo com o governo americano começou ainda em março e que, mesmo com a mudança de postura, o Brasil continua disposto a negociar. Já o ex-diretor da OMC, Roberto Azevêdo, avaliou que o momento exige mobilização estratégica e cooperação entre governo, setor produtivo e Congresso para proteger os interesses nacionais.
A pressão econômica é expressiva: ao menos 30 segmentos da indústria brasileira destinam mais de 25% de suas exportações aos EUA. Estudo da CNI aponta que, com a nova tarifa, o setor de tratores e máquinas agrícolas poderá perder 23,6% das exportações e 1,8% da produção; o de aeronaves e embarcações, até 22,3% das exportações e 9,1% da produção; e o setor de carnes de aves, mais de 11% nas exportações e 4,1% na produção nacional.
Nos próximos dias, a comitiva intensificará os diálogos com congressistas americanos, enquanto articulações diplomáticas também seguem paralelamente com o Itamaraty e o vice-presidente Geraldo Alckmin, que está à frente das iniciativas de contenção da crise. O prazo é curto, o impacto é grande, e o desafio é político, econômico e institucional.
Com informações Agência Senado
















