Pandemia de Covid-19 foi responsável por até 350 crianças órfãs no estado desde 2021, revela estudo
Mato Grosso do Sul registra média anual de 599 órfãos
Foto: Arquivo/EBC

Clique e ouça a matéria

Um levan­ta­men­to iné­di­to rea­li­za­do pelos Cartórios de Registro Civil reve­lou que Mato Grosso do Sul regis­trou, entre 2021 e 2024, uma média anu­al de 599 cri­an­ças e ado­les­cen­tes órfãos de pelo menos um dos pais. Os dados con­so­li­da­dos mos­tram que, em 2021, a pan­de­mia de Covid-19 foi res­pon­sá­vel por cer­ca de 176 des­sas per­das, repre­sen­tan­do apro­xi­ma­da­men­te um ter­ço do total de 546 órfãos naque­le ano.

O estu­do foi rea­li­za­do por meio do cru­za­men­to de CPFs pre­sen­tes nos regis­tros de nas­ci­men­to e óbi­to, o que per­mi­tiu, pela pri­mei­ra vez, a obten­ção de núme­ros pre­ci­sos sobre a orfan­da­de no esta­do. Essa con­so­li­da­ção só foi pos­sí­vel a par­tir de 2021, quan­do pas­sou a ser obri­ga­tó­ria a inclu­são do CPF dos pais nos regis­tros de nas­ci­men­to. Em 2022, o núme­ro de órfãos regis­tra­dos foi de 550, enquan­to em 2023 hou­ve um aumen­to para 632. Até outu­bro de 2024, os dados já apon­tam 670 órfãos, supe­ran­do o recor­de do ano ante­ri­or.

A pan­de­mia de Covid-19 dei­xou um impac­to sig­ni­fi­ca­ti­vo nes­ses núme­ros. Segundo o levan­ta­men­to, 216 cri­an­ças per­de­ram ao menos um dos pais dire­ta­men­te em razão da doen­ça. Quando soma­das as mor­tes rela­ci­o­na­das, como as cau­sa­das por insu­fi­ci­ên­cia res­pi­ra­tó­ria e sín­dro­me res­pi­ra­tó­ria agu­da gra­ve (SRAG), o núme­ro pode alcan­çar 350 cri­an­ças órfãs no esta­do. Além dis­so, a pan­de­mia tam­bém foi asso­ci­a­da ao aumen­to de mor­tes por outras doen­ças, como infar­to, AVC, sep­se e pneu­mo­nia, que con­tri­buí­ram para o agra­va­men­to do qua­dro de orfan­da­de.

O pre­si­den­te da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais em Mato Grosso do Sul (Arpen-MS), Marcus Roza, des­ta­cou a impor­tân­cia dos dados para a cri­a­ção de polí­ti­cas públi­cas. Segundo ele, o levan­ta­men­to for­ne­ce uma base essen­ci­al para a ela­bo­ra­ção de medi­das que asse­gu­rem o aco­lhi­men­to e os direi­tos das cri­an­ças, espe­ci­al­men­te em um con­tex­to de cri­se sani­tá­ria. “Esses dados aju­dam a iden­ti­fi­car o impac­to soci­al e econô­mi­co da per­da de pais e res­pon­sá­veis, per­mi­tin­do pla­ne­jar ações que garan­tam edu­ca­ção, mora­dia, supor­te psi­co­ló­gi­co e um futu­ro mais inclu­si­vo”, afir­mou.

O estu­do tam­bém iden­ti­fi­cou que o núme­ro de cri­an­ças que per­de­ram ambos os pais é sig­ni­fi­ca­ti­va­men­te menor. Em 2021, foram 13 casos; em 2022 e 2023, 10 casos em cada ano; e até outu­bro de 2024, foram regis­tra­dos 9 casos. Apesar de repre­sen­ta­rem uma par­ce­la redu­zi­da do total, esses núme­ros refle­tem a gra­vi­da­de da situ­a­ção e a neces­si­da­de de aten­ção espe­ci­al a essas cri­an­ças.

No cená­rio naci­o­nal, São Paulo é o esta­do com o mai­or núme­ro de órfãos, devi­do ao seu con­tin­gen­te popu­la­ci­o­nal, segui­do pela Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em Mato Grosso do Sul, os dados refor­çam a urgên­cia de ações inte­rins­ti­tu­ci­o­nais para pro­te­ger cri­an­ças e ado­les­cen­tes, espe­ci­al­men­te dian­te das con­sequên­ci­as da pan­de­mia. A con­so­li­da­ção des­sas infor­ma­ções se tor­na, assim, um pas­so fun­da­men­tal para enten­der e miti­gar os impac­tos da orfan­da­de no esta­do.

SOBRE O AUTOR

Picture of Odirley Deotty

Odirley Deotty

Odirley Deotti é jornalista, escritor, designer gráfico e chefe de redação do Guia MS Notícias.

Que tal assinar nossa Newsletter e ficar por dentro das novidades?

LEIA