OPINIÃO

A rotina de uma mãe é feita de birras, abraços que recarregam a alma e a constante busca por equilíbrio em meio ao caos.
Maternidade real: entre birras, bandeiras brancas e as férias que se aproximam
Isaac e a boa e velha birra. (Foto: Arquivo Pessoal)

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Tem dias em que ser mãe pare­ce uma mis­tu­ra de tes­te de resis­tên­cia com rea­lity show, mas sem prê­mio no final. Esta sema­na, enquan­to leva­va o Benjamim ao judô, o Isaac, meu peque­no em ple­na “ado­les­cên­cia dos bebês”, resol­veu dar um show à par­te.

Ele se jogou no chão, gri­tou como se esti­ves­se no pal­co de um dra­ma sha­kes­pe­a­ri­a­no e arre­mes­sou tudo o que esta­va ao alcan­ce. E eu? Só olhei. Naquele momen­to, meu can­sa­ço emo­ci­o­nal falou mais alto do que qual­quer olhar de repro­va­ção ao redor. Normalmente, eu faria de tudo para “acal­mar a fera”, mos­trar ao mun­do que sou uma boa mãe e evi­tar “enco­mo­dar” as pes­so­as. Aquela velha pres­são de ser a mãe per­fei­ta na fren­te de pla­tei­as alhei­as. Mas, naque­le momen­to, a exaus­tão ven­ceu.

Parei, res­pi­rei fun­do e enca­rei o Isaac. Ficamos ali, nos olhan­do, em um diá­lo­go silen­ci­o­so. Meu olhar dizia: “Filho, pelo amor de Deus, cola­bo­ra, por­que eu não estou con­se­guin­do mais.” E, sur­pre­en­den­te­men­te, ele parou. Lentamente, e como em um fil­me em câme­ra len­ta, come­çou a reco­lher os obje­tos que tinha joga­do no chão. Quando ter­mi­nou, eu o peguei no colo e dei um abra­ço demo­ra­do, um daque­les que recar­re­gam a alma, como quem agra­de­ce por uma tré­gua – mes­mo que momen­tâ­nea.

É cla­ro, que a cal­ma­ria não durou mui­to. Pouco tem­po depois, ele já esta­va com outro moti­vo para abrir o reper­tó­rio de gri­tos e bir­ras. E assim segui­mos, entre sus­pi­ros, sor­ri­sos e ora­ções, pedin­do a Deus for­ças para con­ti­nu­ar.

Agora, só de pen­sar que as féri­as só estão come­çan­do, já bate aque­la mis­tu­ra de ansi­e­da­de e deses­pe­ro. Porque, se a roti­na já é um caos, ima­gi­na com a casa cheia, filhos inqui­e­tos e dias inter­mi­ná­veis? Que Deus nos dê não só saú­de emo­ci­o­nal e men­tal, mas tam­bém cri­a­ti­vi­da­de e paci­ên­cia para sobre­vi­ver.

A mater­ni­da­de é, mui­tas vezes, um caos tem­pe­ra­do de amor. Nem sem­pre damos con­ta, não somos per­fei­tas e tudo bem.

Nossos filhos pre­ci­sam enten­der que somos huma­nas, que tam­bém temos limi­tes. E nós, mães, pre­ci­sa­mos apren­der que não deve­mos expli­ca­ções ao mun­do.

Que apren­da­mos a dar um tem­po para nós mes­mas, a abai­xar as ban­dei­ras e aco­lher nos­sas imper­fei­ções.

A mater­ni­da­de real é fei­ta de dias exaus­ti­vos e momen­tos mági­cos – às vezes no mes­mo inter­va­lo de cin­co minu­tos.

Pois, não são os jul­ga­men­tos alhei­os que ficam, mas o amor que cons­truí­mos mes­mo em meio ao caos.

Porque, no fim do dia, ser mãe não é sobre ser per­fei­ta. É sobre amar, mes­mo quan­do a paci­ên­cia já foi dor­mir antes de você.

SOBRE O AUTOR

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Karen Andrielly

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