OPINIÃO

Entre histórias reais e a maternidade atípica, filmes inspiram aprendizados e recomeços.
Maternidade atípica e recomeços

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Assistir a um bom fil­me sem­pre foi um dos meus refú­gi­os pre­fe­ri­dos. Adoro aque­les base­a­dos em his­tó­ri­as reais, de supe­ra­ção ou até a velha e boa comé­dia român­ti­ca. Para mim, o cine­ma é uma for­ma de apren­der, refle­tir ou sim­ples­men­te encon­trar um aca­len­to para os dias cor­ri­dos. Mas, con­fes­so, a mater­ni­da­de atí­pi­ca trans­for­mou esse hobby em um luxo raro.

Os meni­nos, Benjamim e Samuel, sabem o quan­to eu amo fil­mes. Eles até se tor­na­ram meus peque­nos par­cei­ros de cine­ma! Aproveito esses momen­tos para ensi­ná-los por meio das his­tó­ri­as que assis­ti­mos jun­tos. Alguns títu­los mar­ca­ram nos­sas ses­sões, como O Violino do Meu Pai, Uma Carta para Deus e O Milagre de Tyson. Eles assis­tem a tudo, aten­tos, absor­ven­do as lições sobre supe­ra­ção, fé e desa­fi­os da vida.

Mas, dias atrás, foi dife­ren­te. Estava só com Isaac, que dor­miu cedo, e deci­di me dar um pre­sen­te: uma noi­te tran­qui­la, cho­co­la­te na mão e o fil­me É Assim Que Acaba. Uma ami­ga havia indi­ca­do, e eu sabia que seria inten­so.

Quando o con­to de fadas vira pesa­de­lo

O fil­me, base­a­do no best-sel­ler de Colleen Hoover, come­ça como uma típi­ca comé­dia român­ti­ca: olha­res apai­xo­na­dos, quí­mi­ca entre o casal, tudo rega­do a sor­ri­sos e cenas leves. Mas logo a his­tó­ria toma outro rumo, expon­do a rea­li­da­de de um rela­ci­o­na­men­to tóxi­co e abu­si­vo. A tra­ma retra­ta o ciclo da vio­lên­cia com pre­ci­são dolo­ro­sa – aque­le padrão cru­el que mis­tu­ra vio­lên­cia emo­ci­o­nal, físi­ca e psi­co­ló­gi­ca.

Uma das cenas que mais mexeu comi­go foi o momen­to em que a pro­ta­go­nis­ta con­fron­ta o mari­do, rela­tan­do a vio­lên­cia que viveu e pro­je­tan­do sua dor na pers­pec­ti­va da filha recém-nas­ci­da. Essa vira­da de cons­ci­ên­cia é arre­ba­ta­do­ra. Não é fácil per­ce­ber que o con­to de fadas que você ima­gi­na­va está mais para um pesa­de­lo, e ain­da mais difí­cil é ter cora­gem de mudar.

Quantas mulhe­res vivem essa rea­li­da­de? Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2024), uma mulher é víti­ma de vio­lên­cia físi­ca no Brasil a cada qua­tro minu­tos. Pior: mui­tas nem sabem que estão sen­do abu­sa­das, por­que a vio­lên­cia emo­ci­o­nal e psi­co­ló­gi­ca pode ser tão silen­ci­o­sa quan­to devas­ta­do­ra.

Maternidade atí­pi­ca e a for­ça de trans­for­mar

Assistindo ao fil­me, não pude dei­xar de pen­sar nas mães atí­pi­cas que conhe­ço – mui­tas delas enfren­tam um peso ain­da mai­or. Além de car­re­gar a sobre­car­ga de cui­dar de filhos com neces­si­da­des espe­ci­ais, elas lidam com a invi­si­bi­li­da­de de suas lutas e, mui­tas vezes, com a vio­lên­cia domés­ti­ca. Para essas mulhe­res, o ciclo de vio­lên­cia se mis­tu­ra com a exaus­tão da roti­na, tor­nan­do a bus­ca por aju­da um desa­fio her­cú­leo.

Ainda assim, essas mães encon­tram for­ças em luga­res ini­ma­gi­ná­veis. Seja no sor­ri­so dos filhos ou no apoio de outras mulhe­res, elas mos­tram que a mater­ni­da­de atí­pi­ca é tam­bém uma lição diá­ria de resi­li­ên­cia e amor.

Um alí­vio final

Depois do fil­me e de tan­tas refle­xões, fiquei pen­san­do: a vida já é cheia de revi­ra­vol­tas, mas, se tem algo que as mães atí­pi­cas sabem fazer, é trans­for­mar até os momen­tos mais difí­ceis em apren­di­za­do – e, por que não, em his­tó­ri­as que arran­cam um sor­ri­so.

Eu, por exem­plo, ain­da estou ansi­o­sa pela con­ti­nu­a­ção do livro, É Assim Que Recomeça. Afinal, reco­me­çar é algo que apren­de­mos dia­ri­a­men­te – com nos­sos filhos, com nos­sos desa­fi­os e até com os fil­mes que nos ins­pi­ram.

E como dis­se Benjamim outro dia: “Mamãe, vamos assis­tir ao SEU fil­me?” – por­que eles sabem que, no fun­do, é nes­sas peque­nas pau­sas que a gen­te recar­re­ga o cora­ção. Sejamos como essas mulhe­res: ves­ti­das da nos­sa melhor ver­são, pron­tas para mudar nos­sas his­tó­ri­as – e, cla­ro, sem­pre com uma bar­ra de cho­co­la­te por per­to.

SOBRE O AUTOR

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Karen Andrielly

"Os artigos assinados por editores convidados refletem as opiniões e visões pessoais dos autores e não necessariamente representam a posição editorial deste jornal. O conteúdo é de inteira responsabilidade dos respectivos colaboradores."

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