No coração do Brasil, o Mato Grosso do Sul é um estado que combina natureza grandiosa, diversidade cultural e raízes profundas. Oficialmente criado em 1977, após a divisão do antigo Mato Grosso, é um território onde o passado indígena e as tradições de fronteira convivem com o avanço do agronegócio e a modernização das cidades. O resultado é uma identidade rica, marcada pela mistura de povos, sabores, sons e histórias.
Campo Grande, a capital, conhecida como “Cidade Morena” por causa da cor avermelhada do solo, é o retrato dessa diversidade. Moderna, arborizada e acolhedora, a cidade é ponto de encontro de migrantes do Sul e do Nordeste, indígenas, paraguaios, bolivianos e, mais recentemente, africanos e venezuelanos que chegaram em busca de novas oportunidades. Nas feiras, mercados e praças, essa convivência multicultural se expressa em sotaques, culinárias e costumes que se entrelaçam. O resultado é um espaço onde o tradicional e o contemporâneo se misturam com naturalidade.
O Pantanal, orgulho do estado e do Brasil, é o maior santuário natural da América do Sul. Reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade, abriga uma das maiores biodiversidades do planeta. Suas paisagens de rios e baías, repletas de tuiuiús, araras-azuis, capivaras e onças-pintadas, formam um espetáculo único. Cidades como Corumbá, Miranda e Aquidauana são portas de entrada para o turismo ecológico, que cresce ano a ano com experiências que incluem safáris fotográficos, cavalgadas, passeios de barco e pescarias esportivas. A vida pantaneira é uma síntese da cultura do estado: simples, generosa e em harmonia com a natureza.
A algumas horas dali, Bonito se destaca como um dos destinos mais desejados do Brasil e do mundo. Suas águas cristalinas, onde os peixes nadam ao lado dos visitantes, são mundialmente conhecidas. O município é modelo de turismo sustentável, com acesso controlado e práticas que preservam o meio ambiente. Grutas, cavernas, cachoeiras e trilhas fazem de Bonito um verdadeiro paraíso natural, símbolo da consciência ecológica que o Mato Grosso do Sul vem consolidando.
Mas o estado não se resume a Bonito e ao Pantanal. Outras cidades também revelam belezas e tradições singulares. Dourados, segunda maior cidade do estado, é um polo cultural e econômico onde a presença guarani e kaiowá mantém viva a herança indígena. Jardim, vizinha de Bonito, abriga o Buraco das Araras, uma cratera natural que impressiona pela beleza e pela presença de centenas de aves coloridas. Aquidauana e Anastácio, às margens do rio de mesmo nome, preservam o estilo de vida pantaneiro, com festas de comitiva e culinária típica. Bela Vista, na fronteira com o Paraguai, é marcada pela influência paraguaia e pelas danças de chamamé, guarania e da polca. Rio Verde de Mato Grosso, Costa Rica e Coxim completam o mapa turístico com rios, cachoeiras e trilhas ideais para o turismo de aventura. Já Porto Murtinho, às margens do Rio Paraguai, desponta como novo destino internacional, impulsionado pela construção da Rota Bioceânica, que ligará o Brasil ao Chile.
As fronteiras do Mato Grosso do Sul com o Paraguai e a Bolívia são muito mais que linhas no mapa — são pontes culturais e afetivas. Com o Paraguai, a fronteira se estende por cerca de 1.300 quilômetros, passando por cidades como Ponta Porã a terra das compras internacionais, Bela Vista e Porto Murtinho. Nessa região, português e espanhol se misturam em um portunhol que expressa a convivência diária entre povos irmãos. As trocas comerciais, familiares e culturais são intensas, e o intercâmbio é visível na música, na culinária e até na arquitetura das cidades. Já a fronteira com a Bolívia, concentrada na região de Corumbá e Ladário, revela outro tipo de integração. A presença boliviana é forte nas feiras, no comércio e na vida cotidiana, com laços que ultrapassam gerações. Em ambas as fronteiras, fronteira é sinônimo de convivência e não de separação.
Antes da chegada dos colonizadores e da criação das fronteiras políticas, o território sul-mato-grossense já era morada dos povos guaranis. Eles continuam presentes em várias regiões, especialmente no sul do estado, em comunidades de Dourados, Amambai, Caarapó e arredores. Para os guaranis, a terra é sagrada, um espaço de equilíbrio entre o homem, a natureza e o divino. Essa filosofia está viva nos rituais, nas músicas e nas rezas entoadas em guarani, que ecoam pelas aldeias e mantêm viva a espiritualidade ancestral.
A língua guarani é ainda falada em muitas comunidades e influenciou o português regional, nomeando rios, cidades e expressões populares. O artesanato indígena, com cestarias, colares e instrumentos musicais, é mais que arte: é resistência cultural. A presença guarani não é apenas uma herança do passado, mas uma força viva que ensina a importância da harmonia com a natureza e do respeito à terra.
O Mato Grosso do Sul também reconhece oficialmente a contribuição do povo paraguaio em sua formação social e cultural. Duas datas celebram essa ligação histórica: o Dia do Povo Paraguaio, comemorado em 14 de maio, e o Dia da Polca e da Guarania em 15 de maio, que homenageiam os ritmos típicos do Paraguai e sua influência na música regional. Essas celebrações reforçam o elo entre os dois povos e mostram como o estado valoriza sua herança fronteiriça.
A cultura sul-mato-grossense é uma das mais plurais do país. Festas religiosas, como a Festa do Divino Espírito Santo e a de Santo Antônio, movimentam comunidades e mantêm tradições seculares. A música é uma marca do estado: o chamamé, a polca e a guarania, vindos do Paraguai, se misturam ao sertanejo e à moda de viola. A gastronomia também traduz essa miscigenação. O sobá, prato de origem japonesa adaptado em Campo Grande, divide espaço com a chipa e sopa paraguaia paraguaia, o arroz carreteiro dos tropeiros e macarrão pantaneiro, e o tereré, bebida gelada de erva-mate que é símbolo de amizade e convivência.
Viajar pelo Mato Grosso do Sul é vivenciar o encontro entre o moderno e o ancestral. É perceber como o estado consegue equilibrar desenvolvimento econômico com respeito às tradições. É ouvir o som do chamamé em Bela Vista e Ponta Porã, sentir o cheiro da terra úmida no Pantanal, mergulhar nas águas de Bonito e escutar o canto guarani que ecoa das aldeias.
Africanos, venezuelanos, paraguaios, bolivianos, indígenas e brasileiros de todas as partes se cruzam nas ruas, nas feiras e nas fronteiras, formando uma teia humana que dá ao estado seu caráter único. O Mato Grosso do Sul é, acima de tudo, uma terra de encontros entre povos, culturas e naturezas. Um território onde o passado e o presente caminham lado a lado e onde a diversidade não é apenas celebrada: é vivida todos os dias.